14 de março de 2008

Negação literária

Diga o que quiser
condene o quanto puder
que dos mortos estou farta!


Ralhe e condene,
maldiga a mulher
que decerto mal sabe
dizer o Português de rebuscos,
quanto mais fazer prosa e verso em Inglês!
Pois largue,
largue de uma vez,
largue de dar atenção
a uma mulher tão infame!


Pegue Foucault, Flaubert, Kafka, Balzac,
Calvino, Maupassant, Henry James, Anne Rice,
pegue e leve-os embora contigo!
Quero a prosa e a poesia
de fundo de quintal,
quero a literatura dos vivos!

Pois deixe de dar atenção
a uma mulher tão infame,
de versos fracos,
isenta de norte,
que é incapaz de extravasar
sua agressividade através de palavras!
Com tantos bons escritores
- escritores jovens e vivos
de que vale essa mulher?


Pois estou farta dos mortos!
De tudo que eu quero,
antes quero
uma literatura que não
seja morta!


Deixe, deixe de lado,
deixe de dar atenção
a uma mulher tão infame,
que não sabe o
que é literatura,
quanto mais fazer versos...
essa mulher não é literata!
Como pode um ser humano
em sã consciência
ignorar os clássicos?


Não me fale,
não comente, não me lembre,
eu não quero os versos de Camões!
Pare de citar os mortos,
não me fale de Horácio,
nem de Homero, Catulo ou Safo!
Às favas com os clássicos!
De tudo que eu quero,
antes quero uma
literatura viva!


(CRUSP, Cidade Universitária - São Paulo, Novembro de 2007)

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