14 de março de 2008

Idéias e pensamento

As idéias não surgem da escuridão do nada. É preciso uma faísca, porque no vácuo do pensamento não se cria aquilo que pode se transformar, se remoldar, se adaptar e se balançar nos socos e pontapés da vida na psique pra depois se firmar reerguido e mais forte.

Não somos inferiores, porque ninguém que é necessariamente vivo é superior. O inferior é o que pensa ao mesmo tempo que são muitos os iguais a si mesmo, e que tantos outros que são diferentes são inferiores e precisam de sua orientação de sábio líder para um dia serem iguais ou parecidos consigo.

Experiência - dos muitos anos passados - não é sinônimo de sabedoria, nem causa essencialmente necessária, nem parte inseparável, inerente. A sabedoria não vem da simples passagem dos anos ao nosso redor, porque ver as mudanças sem fazer parte delas, sem se readaptar com elas é ficar parado enquanto o mundo corre e te atropela. A sabedoria real exige que nada seja definitivo, julgado e concluído de uma vez por todas; necessita de visão aberta ao mundo, aos fatos, e às idéias o tempo todo, sendo que a própria Ciência que traz o conhecimento e o avanço, com suas idéias bem formuladas, exige a possibilidade de ter suas idéias revistas, repensadas, permitindo ser adaptada, reformulada e até mesmo derrubada por novas idéias que contradizem aquela anterior.

O conhecimento não está nos livros ou no que alguém disse mas você não viu e nem achou por si mesmo. O que traz o conhecimento é receber informação, absorver o que recebeu sem engolir tudo a seco de olhos fechados ou tapando o nariz pra disfarçar a dúvida. Ter o conhecimento é juntar o que você viu, leu, ouviu, de uma vez só, analisar e ainda acrescentar, mostrar que você é vivo e tem suas próprias idéias.

A vida não está no sangue que corre nas veias, não está na comida que você digere e não está no que os outros falam pra você. As idéias em transformação e reconsideração constante mantém vivo o pensamento. A mente que formou, julgou e se permitiu concluir seu pensamento como definitivo morre. E o corpo sem mente não tem mais vida, se destrói, se corrói, se desfaz e desaparece no turbilhão do tempo em renovação.

(Trem Expresso Leste da CPTM, São Paulo, Setembro de 2006)

Nenhum comentário: