3 de abril de 2008

Ode a um maldito

Enfim passaste a me ignorar!
Ouves minha voz,
e não me falas.
Me vês passar em redor, mas não te atentas.
Enfim te aquietas sem que eu rogue o teu silêncio!
Ralhe, pragueje e culpe
a quem e o que bem entender
que a tua glória não terá meu nome!

Falaz... mentiroso e grande falaz
é tudo o que és.
Já conheci tua falácia,
já vi tuas palavras torpes,
já verifiquei tua prosa distorcida;
agora sei, e fiz por merecer,
decerto agora tens bons motivos
pra usar de metiras e invencionices...
terás de mentira agora
pra manter tua imagem!

Vives a noite, e não a dormes.
Começas a dormir somente
quando eu estou já quase a acordar
e ainda ficas a ralhar meu sono.
Pois sem mais! Infame e maldito,
sem mais! Findou-se a festa!
Faça como bem quiseres longe de mim,
deixa então a noite te levar em vigília,
afastado de mim enfim podes
curtir a morbidez de tua febre e teus delírios do sono
ao longo do dia, enquanto eu vivo!

Culpe a quem e ao que bem quiserdes,
diga o que bem entenderes, infame filósofo...
Não me venhas culpar a mim apenas.
Sei bem o que fiz, e o que tu fizestes.
Fizeste merecer, e muito...
Num sofá, numa brincadeira, mas
logo a brincadeira tornou-se martírio,
martírio perdido entre lençóis e noites maldormidas.
Pois digo eu, já que por ti mesmo não falas:
foste tu o culpado pelo fim! apenas tu!
Cavaste tua própria cova,
assinaste em vida o teu obituário,
tu mesmo levaste à morte
todo o sentimento positivo antes latente!

Fiz merecer por fim tua falácia.
Agora fiz merecer tuas mentiras.
Mas não me aflijo com teu falar torpe!
Fala filósofo, fala infame,
fala com bem quiseres,
pra esconder tua miséria.
Apenas não tente reavivar
o que já está morto e apodrecendo...

Já te fiz passar e sentir
acho que tudo ou quase o todo
que me fizeste passar e sentir;
o sentimento, antes terno, se foi e morreu;
agora podes ir-te embora duma vez!
Se ainda pensas em retorno...
triste e tolo engano!
Que tenham os Deuses piedade em te tratar,
que eu já não me apiedo mais de ti.

Não fiques ingênuo a pensar
e a tentar alcançar
idéia qualquer que seja do que eu quero,
possibilidade do que eu pretendo...
vindo de ti, eu quero nada!
Me falaste de Sade,
me perguntaste se algum conheci...
se prefiro um Masoch,
decerto um Sade não quero!

Não deixaste que eu me fizesse ingênua
em momento qualquer que fosse,
nem possibilitou protelação,
insististe pra que não houvesse chance alguma
de adiamento de nada...
pois te arrasta agora,
se ainda queres te lembrar de algo
a mim já pouco importa!

Maldito filósofo, infame!
Lamenta e te arrasta
como o perfeito verme que és,
verme infame, maldito!
Lamenta, se queres, te lamenta...
que de ti nada mais quero,
vá-te de minha vida filósofo maldito!
Vá-te, e ame então
a noite e a tua querida Filosofia
que são elas apenas
que não te podem negar ser amantes!

(CRUSP, Cidade Universitária - São Paulo, Novembro de 2007)

Em incertezas...

Quem tem certeza de que existe o deus que é homem, ou é mulher, ou que são dois, ou dezenas, ou um só, ou milhares?

Que certeza você tem de que por aqui ainda vão se passar milhões de anos, ou centenas, ou que esse é o último ano de toda a existência em absoluto?

O poeta Horácio era mesmo um maluco, ah se era! Imagina, pra quê? pra quê correr contra o tempo, como se tivesse um machado acima da cabeça, que pudesse te dar fim a qualquer momento? Tem que ser muito maluco pra pensar assim... mas ser poeta não é ser um pensador maluco?

Que certeza você tem do amanhã?

Que certeza você tinha ontem sobre o seu hoje?

O que te garante que o seu hoje tem um amanhã?

O hoje pode ser o seu ontem. E o seu amanhã pode ser hoje! O quê te garante a verdade?

Você diz que tem certeza que um dia tudo vai melhorar.

Você, ah é! você diz que com certeza vai ter jeito na semana que vem, no mês que vem, no ano que vem talvez... A única certeza pra mim, pra você, pra todos, é a morte!

O quê você fez como o seu ontem?

O que você está fazendo com o seu hoje?

Você tem grandes planos para o futuro?

O quê te garante quando vai acabar o quê ainda não acabou? Quem pode dizer o tempo do fim, ou o fim do tempo?

O seu amanhã é hoje, porque pra você pode não ter amanhã.

O seu hoje é ontem, porque você ainda não se mexeu.

Por que você está aí sentado? Está ganhando o quê parado? O quê você ganha esperando?

Por que você não sai do seu cantinho confortável pra fazer alguma coisa?

Enquanto você fica parado esperando o futuro chegar, o futuro chegou e já se desfez! Enquanto você ficou estacionado o tempo te ultrapassou e o mundo correu e te atropelou!

Aproveita o aqui e o agora, deixa o futuro pro sonhador que não vê o tempo passando e que acha que o melhor vai chegar no amanhã que não se sabe quando vai ser!

Não espere uma outra pessoa o que você podia, bem que podia fazer hoje!

Porque tudo nasce para a morte; o que vive parado, aquele que agora vive parado já está morto, e o que viveu parado morreu sem existir!

(Trem Expresso Leste da CPTM, São Paulo, Novembro de 2006)