6 de fevereiro de 2009

Dia de Chuva

Chove.
Cada gota que cai
inunda de verbo
as minhas veias.
Cada mínima palavra
que escrevo encharca
o papel de vontades.
Cada vontade suprida
eu refaço e redesenho
e a torno borrão.
Cada borrrão
que eu marco
se faz cor.
Cada cor
que eu pinto
se faz som.
Cada som
que eu emito
se faz gota.
É chuva!

(Poá-SP, Fevereiro de 2009)

23 de janeiro de 2009

Relatividade

Em um fim de tarde
tentando repor
tantas noites perdidas de sono.

Em uma só hora
tentando repor
tantos dias perdidos de escrita.

Em uma manhã
tentando refazer
tantos sonhos que talvez eu nunca tive.

Em um só minuto
tentando recontar
tantas tentativas do que eu não fiz.

O tempo é relativo...
foi contando ele
que eu fiquei desorientada.

(Poá-SP, Janeiro de 2009)

Aos pedaços

Escrevi um verso
numa gota d'água.
Quando choveu no dia seguinte
eu enjoei de ouvir o verso.

Escrevi uma estrofe
numa onda.
Quando chegou a ressaca do mar
eu enjoei de ouvir a estrofe.

Escrevi uma palavra
em cada veio da cascata.
Quando mergulhei no rio
o que eu ouvi finalmente parecia poesia.

(Poá-SP, Dezembro de 2008)