24 de março de 2008

O Concreto #2

O concreto viaduto

Que dirá o maldito
no meu luto
viaduto de ilusões que
me cercam e me cobrem e
engolem a nação-mundo
que dirá o bastardo do mundo
no esquecido do não dito
quem esquece e não
se apressa pra fazer tudo
tudo aquilo que foi dito
de uma boca
dum maldito de não dito
que não lembra o que disse que
foi dito para os outros
que hoje olham o viaduto
sem carro ônibus bicicleta
os cobriu o viaduto
viaduto vida e casa
que de casa não tem nada
os que tem vida no
viaduto de noite cobertos
no viaduto debaixo
do viaduto
da guerra fome morte miséria
que a ilusão dos
filhos-bastardos-do-mundo criaram
colocou pros filhos-da-miséria
a ilusão que não existe
guerra-fome-morte-miséria
pra além do que conhecem
ou que só existe
pra além do que eles conhecem
miséria que só é minha
miséria que não é minha
miséria que não é de ninguém
mas que é de todo mundo
miséria pra todo (o) mundo.

(Trem Expresso Leste da CPTM, São Paulo, Outubro de 2006)

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